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sábado, 6 de maio de 2017

Persistência no trading não é requisito, é obrigação

São associadas aos traders inúmeras características de sucesso e uma delas é passar o dia inteiro a clicar no rato, a introduzir ordens no mercado. Ao registar aproximadamente três dúzias de ordens num dia começam, dada a sua persistência, a reputarem-se como um trader a caminho do sucesso. Uma verdade absoluta, não é assim? Claro que não!

O trading requer de um trader, entre outros requisitos, persistência. É quase uma obrigação no sentido metafórico, porque raramente se é produtivo perante tarefas impostas. O episódio que se segue leva-nos à origem do título deste artigo "Persistência no trading não é requisito, é obrigação".

O João e o Manuel são irmãos gémeos e ambos apaixonados pelos mercados financeiros. Acordam cedo e iniciam a sua rotina. Como habitualmente, tomam o pequeno almoço, aproveitam para ir à pastelaria tomar café e aproveitam para ler o jornal com as noticias da actualidade.

O João tem um perfil mais dinâmico e prefere negociar forex e futuros. Já o Manuel, um tanto mais moderado, opta apenas por negociar acções. Retornam a casa, dirigem-se à secretária, ligam os seus computadores com três telas cada um e preparam-se para começar a analisar o mercado. Examinam as respectivas listas de oportunidades, assinaladas no dia anterior, e concluem que, face às condições do mercado, teriam dificuldade em realizar trading nas próximas horas, já que os requisitos das suas entradas estavam longe de serem preenchidas.

Assim, o Manuel desafia o seu irmão para o jogging diário. No entanto o João recusou, preferindo acompanhar o mercado financeiro. Perante a recusa do irmão, Manuel hesita, mas rapidamente decide que o melhor mesmo é aproveitar a inércia do mercado para fazer uma actividade que não só lhe traga benefícios físicos, como também o ajude a ter uma mente mais limpa na hora de investir.

A noite anterior tinha sido de chuva intensa e o dia, que estava cinzento, aparentava não ser diferente. Apesar disso, e não temendo as condições climatéricas adversas, Manuel dá inicio à sua corrida, mas opta porém, por estender o percurso em cerca de 40%, o que até então, apenas havia feito na sua imaginação.

Durante o percurso, Manuel questiona-se se teria ou não feito a escolha mais acertada. As perguntas que surgem na sua mente são tantas, tão rápidas e contraditórias que quase lhe dominam o raciocínio, ao mesmo tempo que ameaçam bloquear-lhe os movimentos. À inquietude, Manuel reage com um controle maior que o normal da sua respiração e esforça-se para se concentrar apenas nisso. Ainda que, em determinados momentos, se sentisse inseguro e frágil, mais afastado da sua zona de conforto, "desistir" não fazia parte do seu lema de vida. Mas naquele momento...
Desacelera um pouco o ritmo da corrida e, mentalmente, tal como aprendeu, procede à análise do comportamento. O que é que o estava a perturbar tanto assim? Estar sozinho? Aumentar o percurso? A iminência da chuva? Tudo junto?
Manuel preferia correr com o irmão, mas já tinha acontecido estar privado da presença dele, logo, este não devia ser um elemento perturbador. Acrescentar quilómetros ao trajecto era algo natural e que a sua boa preparação física lhe permitia que fizesse de tempos a tempos. Quanto à temperatura reconheceu que era a propícia à actividade física; antes assim que o tempo demasiado quente. O que estaria então a acontecer consigo? Porquê tanta indecisão? Por mais que se esforçasse não encontrava motivos para tamanha perturbação.
De tal forma estava absorvido pelos seus pensamentos que nem percebeu que, não só não deixou de correr, como ainda realizou sem sobressaltos o percurso inicialmente programado. Os primeiros pingos de chuva no rosto despertaram-no dos seus pensamentos e só nessa altura reparou que estava a chegar a casa. O ritmo cardíaco mais forte do que o habitual era indicador de que, além do trajecto ser maior, também a velocidade a que o fez foi superior. Ao consciencializar-se disso sentiu-se satisfeito e confiante. Com isso, todas as incertezas e inseguranças se dissiparam.
Chegava a casa. Tomou um duche rápido e quando se juntou ao João percebeu que a chuva se tinha intensificado e vinha acompanhada de trovoada. Interiormente sorriu, ao mesmo tempo que pensou "desafio superado!". João captou-lhe o sorriso e o brilho no olhar e indaga-o sobre o motivo de tão boa disposição. Apesar de não terem segredos e da gigante cumplicidade que os unia, Manuel disse apenas que tinha feito um caminho diferente, mas não pôde deixar de notar o ar entediado de João frente ao computador. Este, quando questionado, mostrou-se arrependido de não ter acompanhado o irmão.
Ao longo desse dia, nada esmoreceu a satisfação do Manuel, que contrariamente ao que era comum e para espanto de João, tentou animar o irmão com piadinhas que lhe eram pouco características.

São muitos os desafios que surgem nas nossas vidas, quer pessoais quer profissionais, e que nos levam a equacionar sair ou não da nossa zona de conforto. Uns, os mais persistentes e determinados aceitarão o desafio. Outros, manter-se-ão onde se sentem mais confortáveis, dominados por receios, comentários e atitudes derrotistas proferidas por terceiros. A vida é assim, feita de escolhas, orientada pelas Nossas escolhas, mais ou menos influenciadas pelo meio envolvente, porém igualmente válidas.
A persistência no trading deve ser presença (quase) obrigatória para quem busca resultados na bolsa.
Quando o mercado não permite ou não tem os argumentos necessários para a nossa actual estratégia, opte por "olhar para a janela, em vez de ficar concentrado apenas na porta"; quer isto dizer, fazer outras coisas, procurar outros interesses, semelhantes (pesquisa de novas estratégias para mercado lateral, revisão de setups...) ou distintos (ler um livro, dedicar-se a algo ou alguém, levar o cão a passear, jardinar...), em vez de clicar vezes sem conta no cursor, na esperança que dê certo no trade a seguir. O segredo está em não se deixar esgotar mentalmente, mas antes, aproveitar e canalizar o seu potencial noutro sentido, mais benéfico para si.

Parabéns! Se chegou até aqui, demonstrou determinação em levar todos os seus desafios, por menores que pareçam, até ao fim.
Persiste e ultrapassarás os obstáculos! Só assim vencerás. E lembra-te de comemorar cada desafio conquistado!
2 comentários:
  1. Parabéns, concordo com tudo o que escreveu, até porque já vivi estas experiências na primeira pessoa. Excelente artigo, vou partilhar.

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    1. Deixe que o parabenize por ter superado mais uma etapa do desafio: assumir com naturalidade o que muitos querem esconder por o considerarem uma fragilidade pessoal.
      Com este tipo de artigo almejo apenas retratar a realidade com simplicidade e veracidade e fazer perceber que todos (ou quase) temos experiências com traços comuns.
      Grato pela partilha.

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